Política, religião e… batatas? Entenda como estes três elementos causaram um impacto na formação da sociedade irlandesa. Quem visitar a Irlanda hoje verá algumas esculturas e monumentos em homenagem às vítimas do período da fome do Século XIX. Este foi um dos capítulos mais importantes da história da Irlanda e não é somente pela tragédia em si, mas por uma série de fatores que ainda intrigam historiadores e pesquisadores.
Entre os anos de 1845 e 1852, uma série de problemas na Irlanda reduziu sua população em cerca de 25%. Durante este período, uma série de doenças e uma crise de acesso à alimentação causaram uma saída em massa da Irlanda. Estima-se que um milhão de pessoas morreram de fome e mais de um milhão deixaram o país.
Como tudo começou?
De acordo com historiadores irlandeses, tudo começou no começo do século XIX, época em que o país ainda era comandado pelo Reino Unido. Uma atenuante diferença social começou a acontecer na ilha da Esmeralda.
Dessa forma, a maior parte da população irlandesa pertencia à classe social mais baixa, em especial os católicos. Por outro lado, os protestantes, apesar de serem em menor quantidade, desfrutavam da maior parte das terras da Irlanda.
Isso acontecia porque o Reino Unido não aceitava a educação católica e criavam leis e impostos cada vez mais pesados. Dessa forma, uma certa rixa religiosa agravava a situação.
Além disso, em pouco tempo, a Irlanda passou a pagar uma carga tributária muito alta para os ingleses. Com isso, a maior parte da produção de alimentos no país tinha que ser exportada para o Reino Unido. Dessa forma, a alimentação dos irlandeses tornou-se quase que exclusivamente de batatas.
A peste das batatas
Dessa forma, o que os irlandeses mais temia, começou a acontecer com certa frequência. A lavoura das batatas começou a “falhar”, devido a algumas pragas, deixando o povo praticamente sem alimentos.
No entanto, o golpe definitivo veio na temporada de 1944, quando uma praga, chamada Phytophthora infestans, atingiu a Europa. Embora não se saiba ao certo como essa praga chegou ao Velho Continente, as teorias mais aceitas é que foram levadas em navios cargueiros dos Estados Unidos ou do Peru.
O certo é que esta praga agravou a situação na Irlanda, que passou a viver uma fome severa, culminando na morte de um milhão de pessoas.
Além da fome, em si, diversas doenças agravaram a situação. Com a pobreza acentuada, a população ficou mais suscetível às doenças. Além disso, os próprios movimentos sociais, de irlandeses buscando novas terras, faziam com que as doenças se alastrassem com mais facilidade.
O fim da crise
Entre 1841 e 1851 diversos atos políticos fracassaram. Neste período diversos esforços internacionais também ocorreram.
Uma das ações mais conhecidas foi a doação de alimentos do império otomano em 1845 e a importação de milho indiano. No entanto, como este grão era duro, os irlandeses não sabiam como processá-lo e o seu consumo só gerou mais problemas.
A crise só foi considerada superada porque a própria lavoura da batata se recuperou entre 1851 e 1852..
Ainda hoje o declínio populacional não foi recuperado. A Irlanda é o único país da Europa, e possivelmente do mundo, que tem hoje uma população menor do que tinha em 1840.
A crise das batatas é amplamente reverenciada na Irlanda. Até mesmo em Nova Iorque, nos Estados Unidos, existe um memorial à fome irlandesa.
Ainda hoje o assunto inspira irlandeses, como Bob Geldof (fundador da Live Aid) e Bono (U2), a combater a fome no mundo.
Portanto, quando estiver na Irlanda, ao ver um dos monumentos em homenagem às vítimas da grande fome, você já sabe que trata-se de uma crise gerada por uma peste na lavoura da batata e agravada pela ineficiência política da época, principalmente, de líderes do Reino Unido, que ignoraram a situação na Irlanda.