Há uma lenda que diz que St. Patrick, o padroeiro da Irlanda, expulsou todas as serpentes da ilha após ter sido atacado por uma delas durante o seu jejum nas montanhas.
É fato que não há serpentes na Irlanda, mas não por causa de St. Patrick, e sim por causas das condições climáticas da ilha. Evidências comprovam que, desde a última era do gelo, o local nunca foi habitado por serpentes. É um dos únicos lugares do mundo – além de Nova Zelândia, Islândia, Groenlândia e Antártida – em que isso acontece.
Para a maioria dos cientistas, a Irlanda era muito fria durante a última era do gelo, há mais de 10.000 anos atrás, o que tornava o local inabitável para os répteis. Mesmo após o seu fim, a presença da água ao redor da ilha impediu que algumas espécies colonizassem o local.
Na Grã-Bretanha, que também é uma ilha, há pelo menos três espécies de serpentes. Isso acontece pois, até 6.500 anos atrás, a ilha era ligada por terra com o resto da Europa.
Antes disso, também havia uma ligação por terra entre a Irlanda e a Grã-Bretanha, mas o derretimento das geleiras fez com que as ilhas se separassem há cerca de 8.500 anos atrás.
Ou seja, não deu tempo para as serpentes chegarem à Irlanda. Nigel Monaghan, do Museu Nacional da Irlanda, diz que estes animais são “lentos para colonizar novas áreas”.
Apenas um réptil conseguiu chegar a tempo na ilha: o lagarto da espécie Zootoca vivipara, que provavelmente chegou à Irlanda há mais de 10.000 anos atrás. Esta espécie vive mais ao norte do planeta do que qualquer outro réptil.
Ok, mas de onde surgiu a lenda de St. Patrick?
Nas religiões cristãs, a serpente é o símbolo do mal. Na Bíblia, por exemplo, é ela quem seduz o fruto proibido no jardim de Adão e Eva. Por isso, a história de que St. Patrick expulsa as serpentes da ilha pode ser uma metáfora da sua missão evangelizadora, que converteu os pagãos em cristãos.