André Oliveira é um entregador brasileiro de 26 anos que foi brutalmente atacado enquanto trabalhava ao longo do Royal Canal, em Dublin. Ele levou um golpe forte na cabeça e teve o celular e a bicicleta roubados por um grupo que incluía adolescentes, ficando com um grave traumatismo craniano e outras lesões sérias. O caso virou símbolo de como trabalhadores de entrega, especialmente migrantes, estão vulneráveis nas ruas da capital irlandesa e despertou revolta sobre violência juvenil, falta de punição e a segurança de quem mantém a cidade funcionando.
Mais sobre o André
André saiu do Brasil para Dublin com o objetivo de trabalhar duro, juntar dinheiro e construir uma vida melhor ao lado da companheira. Recentemente ele tinha comprado uma bicicleta nova para aumentar a renda — um investimento alto para o casal — e essa mesma bicicleta foi levada no ataque que o deixou internado. Amigos e apoiadores o descrevem como um rapaz calmo, trabalhador, focado no serviço e em ajudar a família.
O ataque deixou André com uma hemorragia cerebral que exigiu cirurgia de emergência no Beaumont Hospital, além de fratura no ombro e outras lesões que podem levar meses ou anos para cicatrizar totalmente. Quem quiser apoiar o casal pode contribuir pela vaquinha oficial: Support for André Oliveira.
O ataque no Royal Canal
A agressão aconteceu à noite, em um trecho do Royal Canal Way, próximo a uma área residencial muito movimentada, rota comum para ciclistas, corredores e entregadores. André seguia com a mochila de entrega e a bicicleta quando foi cercado por um grupo de jovens. Ele levou um golpe na cabeça, caiu no chão e teve a bicicleta elétrica e o celular levados enquanto o grupo fugia.
Relatos indicam que parte dos agressores riu da situação enquanto ele estava caído e que pelo menos uma pessoa filmou o ataque com o celular. Em vez de pedir ajuda, o grupo tratou a violência como entretenimento, deixando André gravemente ferido no chão até que outras pessoas o encontrassem e chamassem os serviços de emergência.
Adolescentes descontrolados e comportamento antisocial
O caso do André reforçou preocupações antigas sobre grupos de adolescentes descontrolados e comportamento antisocial em partes de Dublin, especialmente em ciclovias, canais e áreas centrais onde entregadores circulam o tempo todo. Entregadores, corredores e pedestres relatam grupos que bloqueiam a passagem, jogam objetos, xingam e, em muitos casos, partem para roubos e agressões físicas.
Um ponto que se repete nesses relatos é o papel dos celulares e das redes sociais: agressões são filmadas e compartilhadas, transformando ataques em “conteúdo”, em vez de algo que gera vergonha ou punição. Isso acaba normalizando e até glamourizando a violência, enquanto quem mais se expõe ao risco são, justamente, trabalhadores migrantes que passam horas na rua para pagar as contas.
Falta de punição e consequências reais
A indignação em torno do ataque ao André está ligada à frustração com a forma como o sistema de justiça lida com crimes violentos cometidos por jovens. Quando há grupos de adolescentes envolvidos, as investigações tendem a ser mais complicadas, e raramente o público vê informações claras e rápidas sobre prisões, acusações ou condenações. Isso alimenta a sensação de impunidade.
Enquanto isso, para trabalhadores como André, alguns minutos de violência em grupo podem significar sequelas para a vida inteira, trauma permanente e perda total da renda. A distância entre o dano causado e a punição visível para os agressores alimenta a percepção de que a violência juvenil grave não é tratada com a urgência nem com a severidade necessárias — especialmente quando as vítimas são migrantes.
Como ele está agora e o que vem pela frente
Depois do ataque, André passou por cirurgia de emergência no cérebro e foi levado para a UTI, onde segue sob observação constante. As informações mais recentes apontam que o estado dele é grave, porém estável o suficiente para que a equipe médica planeje os próximos passos do tratamento e da reabilitação. Ele enfrenta uma recuperação incerta, que pode envolver novas avaliações neurológicas, fisioterapia e um longo período sem poder trabalhar.
Para André e sua companheira, isso significa não apenas sofrimento físico e emocional, mas também a perda repentina da única fonte de renda e o peso de custos ligados a cuidados de longo prazo. A campanha de arrecadação tem sido um apoio fundamental para custear despesas imediatas, aluguel, transporte e a própria recuperação futura. Quem quiser ajudar pode doar aqui: Support for André Oliveira.
Outros entregadores brasileiros atacados em Dublin
A história do André faz parte de um cenário mais amplo que afeta entregadores brasileiros e outros trabalhadores migrantes em Dublin. Vários relatam já terem sido assaltados, agredidos ou ameaçados durante o trabalho, principalmente à noite e em áreas com pouca presença policial. Muitos brasileiros que vivem da “bike” dizem que são essenciais para o funcionamento da cidade, mas não se sentem protegidos quando algo acontece.
Em 2024, o entregador brasileiro Felipe Carvalho falou publicamente sobre ter sido atacado e roubado no centro de Dublin, contando que levaram seu celular e que é comum os riders enfrentarem ameaças, xingamentos e intimidação física enquanto fazem entregas. Reportagens sobre o caso dele destacam como esses episódios não são isolados, mas parte de um padrão de violência e hostilidade.
Outro brasileiro, o entregador Caio Benicio, ganhou destaque internacional em novembro de 2023 ao intervir para impedir um ataque a facadas em frente a uma escola em Dublin, usando o capacete da moto para desarmar o agressor e proteger crianças e pais. A história dele mostra, ao mesmo tempo, o risco constante a que esses trabalhadores estão expostos e a coragem com que muitos atuam no dia a dia.
Somadas, essas histórias revelam uma cidade que depende cada vez mais de entregadores migrantes, muitos deles brasileiros, mas ainda não oferece a eles a segurança que deveriam ter. O caso do André virou um ponto de virada na cobrança por ações mais firmes contra a violência juvenil, mais proteção para quem trabalha na rua e responsabilização real quando ataques mudam a vida de alguém para sempre.
Atualização do André
Em declarações reproduzidas em entrevistas antes de seu estado se agravar, André falou da surpresa e da tristeza com o que aconteceu em Dublin. Ele contou que veio com a companheira para “trabalhar e viver tranquilo” e resumiu o sentimento dizendo que acreditava que eles estariam seguros ali, até a noite em que foi atacado.
A parceira de André também deu um depoimento comovente sobre o impacto do crime, descrevendo o medo, a incerteza e a pressão financeira que enfrentam enquanto ele segue na UTI. Quem quiser ouvir o relato completo pode acessar o podcast da RTÉ Radio 1: Partner of Brazilian man who was brutally assaulted while working as delivery driver.